Começou
com a estrada...o povo aqui ate estranhou..há tantos anos ninguém
ligava pra esta estrada..tinha buraco atrás de buraco;uns remendados
outros escancarados....E acabava ano entrava ano e nada de arrumar.
De
repente, caminhão a não poder mais..com pedronas, pedrinhas, asfalto
novo..cheiro de pixe no ar..os cães curiosos.. apareciam pra ver que era
aquilo..e tinha gente tb..nunca tinham visto "fazer asfalto".
Ficou
pronto na sexta-feira. No sábado, o helicóptero do Serra baixou na
roça. Hoje fui no supermercado da dona Maria e ela disse: "-Os homé
olharam nóis la de cima.tinha que vir aqui no chão, pra ver como é
bão...". E riu. Foi ela que perdeu tudo no supermercado quando o rio
encheu e deixou a praça do coreto debaixo dágua..Não apareceu ninguem
pra ajudar..só nós mesmo.. vizinhos!
Mas
neste sábado a praça do coreto tava em roupa de gala..tinha gente de
fora...Loyola, Serra, gente "de berço", com carrão todo preto, último
modelo, estacionado na praça, que nunca viu tanta gente. Feira Cultural,
Literária, com autores do Vale, de Sampa, do mundo.
Tinha
câmeras da Cultura, da Globo..tinha gente de montão..que eu nunca vi.
Comeram bolinho caipira, famoso aqui da região, de farinha de milho e
carne moida com gengibre..tomaram quentão e vinho quente.
Mas
sabem o que tava faltando? O povo da roça, gente. Não foi ninguém.
Fiquei horas por lá, procurando Dona Maria, "seu" Isaías, "Seu" João do
Açougue, Dona Olivia, a Queila com a criançada...nem o Cowboy do
Xandinho tava lá com seus cavalos pra alugar. Não sei o que deu neste
povo da cidade, que vem comemorar livro na roça e esquece do "povo da
roça".
Povo
que não sabe escrever, que tem vergonha de ser quem se é...seja homem
ou mulher, criança ou velho, é obra de arte, marcado na pele enrugada
prematuramente pelo sol e pela enxada puxada desde cedo.
Gente que não foi comemorar coisa de "gente de bem". Fui embora.
Fui
pra casa do Bambuíra e da Lelê que tocaram viola pro governador e
sairam pelos fundos, pra não atrapalhar as conversas dos políticos.
Coisa
doida. Agora fica a estrada lá, pros carrões voltarem nos finais de
semana. "Seu" Isaías ainda anda pelas estradas de terra mesmo, no "pois
é" vermelho que custa pra pegar.
Minha
festa tem outra cara. Daquelas de tirar a palavra da boca. Fica so o
sorriso de quem ta de bem com a vida. Sorriso que eu não sorri na Festa
Literária.
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