Sabe, nesta cidade tem mesmo tudo.
Ontem fui convidada para um jantar
num sítio na estrada da Santa Bárbara, no quilometro lá longe Mantiqueira acima comer pizza feita em casa.
E lá fui eu.
Noite já. Logo depois de passar o trevo de São Chico eu já sabia que eu
ia me perder. É diferente de cidade. Na cidade vc tem mapa, tem guia
on-line que te da a direção certa, as ruas á esquerda e direita pra se
entrar.
Putz... na roça não tem mapa..as ruas são de terra, os
números são longas sequências de números, mostrando que os quilômetros
estão a passar. As casas, geralmente, estão longe da porteira e
perguntar fica impossível. Então, com o presentinho no banco ao lado, é
pisar no acelerador e se perguntar se , da última vez, aquela lixeira,
ou aquele poste, ou aquela porteira, estava lá... se é conhecido o
terreno...aiii. Segue em frente com o coração na garganta, aquela
escuridão com o céu mais estrelado do que nunca.
E sobe montanha. Sobe. Sobe. Sobe. Vira à direita na lixeira depois do bar e vai subindo.
Depois de um tempo, virei na igreja. Era óbvio, naquele momento pelo menos ficou, que eu havia me perdido outra vez.
Desci..e na lixeira depois do bar, virei à esquerda. E subi, subi, subi, e subi mais um tanto.
A direita vi a porteira dos amigos.
Casinha
de caboclo, pequenina. Fogão á milhão, com torradas, vinho..bom papo..e
papo vem e papo vai, um amigo da roda conta que foi visitar o atelier
de um vizinho. Ele faz máscaras venezianas, lindas e coloridas, naquele
visual chique do carnaval da cidade italiana.
Meu amigo disse que ficou um bom tempo lá, batendo papo com o artista, que é budista. Falaram sobre os vários caminhos de Buda.
Poxa,
eu tava gostando tanto de ouvir, que até levei um susto quando o amigo
disse que o artista levantou a blusa e mostrou um revolver calibre 38
que estava na cintura. E apontou para detrás da cortina mostrando uma
escopeta calibre 12, encostada na parede. E ai meu amigo notou os dois rottweilers na porta, parte da mesma estratégia de "segurança".
Budista.
Roça escura, estrada vazia de gente, com casas distantes. Na floresta em torno, só escuridão.
Não culpei o budista fajuto.
Pensei em mim mesma, na solidão da montanha.
Deus na roça é para os corajosos e os ingênuos.
Deus é confiar no Universo, que tudo vai dar certo.
Deus é se jogar do despenhadeiro de braços abertos e acreditar que lá embaixo é tudo rosa.
E é.
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