Casa
caipira, vinho Natal, um queijo feito em casa, café saído de um fogão a
lenha, numa cafeteira azul, tudo em cima de mesa simples de madeira,
com toalha branca. Gente simpática. Foram logo falando das "coisas da
roça".
Primeiro, cuidar bem ao andar de noite pelas estradas na roça, por causa do "CORPO SECO".
Corpo seco?, perguntei. Nunca ouvira falar.
Juraram que "fulano" era corpo seco. Filho de "sicrana". Matou a mãe, e o pior aconteceu.
Como
castigo divino, o corpo do moço secou quase até o esqueleto, mas ficou
pesado, tão pesado com o peso da culpa que ele não pode mais andar
sozinho. Fica escondido num canto escuro da estrada, esqueletoso e
pesado, com fome eterna.
Se
ele pedir ajuda a algum transeunte, este deve parar e carregar o corpo
seco nas costas ate onde ele quer ir. Senão ajudar, fica doente.
E não adianta dar comida. Corpo seco esta sempre com fome.Fome que não se mata nunca.
Mas fico pensando. Me lembrei do Gollum.
Achei alguma semelhança na alteração que o ódio faz no ser e como isso é "sentido" pelo imaginário popular.
Tolkien e os "antigos" da roça foram buscar no mesmo "inconsciente coletivo" a figura do atormentado.
Eu
ando de noite por ai, de lanterna, com meus cães fiéis... Olho firme,
se algum barulho me chama a atenção. Sei lá... e se for o Corpo Seco???