Tenho poucos amigos.
Não porque eu seja uma pessoa terrível de se ter por perto.
Não porque eu seja antipática, ou tenha defeitos fortes que impedem pessoas de se chegarem mais intimamente.
Será que tenho poucos amigos porque não consigo viver intensamente com todos?
Será que meu jeito de ser é mais reservado? Escondido quase??
Amigo é algo muito intenso, muito profundo, para se ter muitos por ai.
Não dá tempo para mergulhar de cabeça em todas as águas...
Portanto, os amigos são aqueles que conseguem despertar em mim esta
"profundidade de águas" que não vemos o fundo, mas que sabemos, guardam
criaturas incríveis, locais nunca antes vistos por nenhum olho humano.
E não sou eu, em absoluto, quem mexe os pauzinhos, dizendo "este vai ser
meu amigo", "aquele não vai". "Com este posso ser amiga íntima", "com
aquele nem pensar".
Não é assim que funciona a vida. Os amigos, assim como os amores, são
reconhecidos pelos olhos, que se "grudam" de forma diferente.
Se tenta não pensar, pensa.
Se lembra, não esquece.
Se esquece, logo se lembra.
Aí começa o diálogo entre duas almas.
Tem Amizade que "nasce" e que parece que não era bebê quando nasceu.. Já
nasceu antigo, de outras lembranças, que parecem vão ser lembradas
quando se fixa o olhar firme nos olhos do amigo. "De onde mesmo que eu
já conheço você?".
Tem amizade que dura anos a fio, rendendo cartas, conversas, risos e
choros. A intimidade chega a ser maior do que a que temos com nossos
companheiros de jornada, de cama, mesa e banho, sabe?
E tem aquelas que se vê pouco, mas que já está fincada, enraizada no
coração, só pelas almas, que se conversam no silêncio, na troca de
olhares...em poucas palavras.
Tem amizade que muda, que vai crescendo e quando se percebe, esta maior
do que amizade jamais foi. É mais do que amigo, embora mais do que amigo
seja uma condição que não pode faltar quando se ama alguém de forma
especial. Amizade que muda sem deixar de ser amizade.
Tem amizade que acaba. De intenso que foi queimou e apagou. Deixou o rastro do brilho. A lembrança da Luz.
Tem amizade que acaba. De intenso que foi queimou e apagou. Deixou um
rastro de dor, de coisas que não foram bem ditas, nem por palavras, nem
por olhar.
Esse diálogo entre amigos vai longe, de qualquer forma que se apresente.
Se temos várias vidas, então a explicação vem fácil: a única coisa que
trazemos quando voltamos á vida na carne é o escrínio (porta-joias) do coração, já com
algumas joias guardadas como tesouros que são.
Viemos com o baú no peito já com amigos dentro dele.
E, pelo mesmo motivo de termos várias vidas, vamos levar deste aqui as
joias adquiridas e aquelas que trouxemos, mais lapidadas ou não,
conforme nossas escolhas.
Escolhas de palavras, de atitudes, de gestos, de vida.
Com nossas escolhas, dilapidamos ou lapidamos nossas joias.
Com nossas escolhas, garantimos nosso futuro.
O que é amigo para você?